terça-feira, 31 de agosto de 2010

Caminhos

Caminhante que sou,
Vago, em asas, sem rumo certo,
Contemplo planícies verdejantes
E luto, a desviar os meus olhos
De tudo o que golpeia a minha alma
E me faz desacreditar.

Caminho, a rolar por sobre estrelas imaginárias,
Lançando o meu coração andante
Ao vento que me conduz,
Ao mistério,
Ébria de sonhos, coberta de esperar.

E das flechas de fogo faço flores,
A colher essências perdidas,
Ao encontrar, por entre despojos,
Uma rosa, a ressuscitar.

Minha fé está num milagre do futuro,
Brotado em corações que cantam.
Celebro este canto que virá
Eclodido em bocas gritantes,
A invadir campos e campestres,
A contagiar.

O grito arrastado pela chuva
Deslizará em enxurradas profundas
Até, na várzea, se abrir
E fazer as flores brotarem.

E, quando já em silêncio,
Sentirei o brotar do tempo novo,
A florescer pelas épocas sem fim,
reconstruindo a história
Para sempre, em flores, a se abrir.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Sonhar = a arte nos faz sonhar?

Sonhar é querer ir mais além do que se é ou se tem.
Por isso, vive o poeta insatisfeito, mas a sonhar, numa busca incessante da totalidade.
Sonhando ou acordando, a mesma busca, a eterna procura da plenitude a lhe acompanhar.
Só através da arte o ser humano é capaz de se unir com esse todo que tanto aspira. Só a arte lhe faz sonhar. Ou até mesmo descobrir, de repente, que as coisas não são bem assim. Pois a arte tem esse poder - e deve ter- de transformar, dar - a leitor e escritor - decisão e ação para mudar o seu mundo real.
A arte não se completa apenas com o seu sentido mágico, o apenas sonhar, muito embora ela não existe sem, ao menos um pouco dessa magia. Mas a realidade que nos cerca exige uma arte que seja capaz de tirar-nos desse mundo de sonho e magia e conduzir-nos à transformação: acordar e ver as coisas não sendo bem assim.
É o nosso mundo real, conturbado, despertando o poeta nem que seja por instantes e fazendo-o, na maioria das vezes, chorar.
Mas, é essa mesma arte que o ergue, o impulsiona a transfigurar uma realidade e o retorna ao seu sonhar.
Como diz Mário Quintana, "sonhar é acordar-se para dentro". O sonho nos permite, portanto, nos explorar e catar as chances, medir probabilidades, nessa capacidade do sonhar.
Assim sendo, deixai-me, pois, sonhar. Sabendo que só através do sonho nascem possiblidades para o concretizar.

domingo, 29 de agosto de 2010

Eu estranho


Estranho o estranho acontecer,
Calcando os pés gigantes, na Paz,
Eliminando a verde esperança,
Como quem, impiedosamente,
Pisa na grama dos jardins.

Estranho não ouvir mais
O canto do pássaro estranho
Que eu não conhecia, jamais antes vi
E que pousava, todas as manhãs,
Nas árvores (já tão estranhas) do meu jardim.

Estranho ver as pessoas correndo,
Assim, apressadas, irritadas, stressadas,
Pelas ruas desta cidade
Tão agitada e medrosa,
Como fugitivos, da guerra a fugir.

Estranho quase não ver o mundo
Em sorrisos dar bom-dia,
Estender mãos cálidas e macias,
Distribuir abraços, desejar estreitar laços
E amar tudo e todos, ao redor.

Estranho a vida se estranhando,
Fechando portas, trancando janelas,
Gradeando jardins, cercando-se...
Prisioneira, em castigo, por ser amiga da Paz.

Estranho ver o meu irmão ser castigado,
por ser bom,
Ver alguém ser livre, por ser mau...
Serei eu a estranha, por aqui?
Será estranho, eu estranhando a vida, assim?
Mas, eu estranho...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Por que voam as aves?

Por que voam as aves?
Por que é o seu desejo de vida voar, se têm na terra, fruto e pouso?
Por quê?
Porque a liberdade, sempre, as chama,
Porque a liberdade as convoca a mirar o alvo, na rota do infinito e a buscar voo livre.
Porque são livres.
Porque não se encadeiam entre leis absurdas e ditos hipócritas, são livres.
Só o homem cria cadeias e, com elas, se aprisionam, na própria liberdade.
E, quando pensam em voar, descobrem a morada da manhã, mas não a podem visitar, porque...
NÃO SÃO AVES!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Meu Poema

Queria escrever um poema  tão belo, que se tornasse transcendente, em todas as palavras;  síntese, do que há na beleza, do mais belo de todo o belo.
Que fosse canção e ventania, perfurando o espaço, metafísico, no tempo, percorrendo o além de todos os aléns, produzindo e explodindo sonhos, para, em realidade, transformar-se.
Um poema, assim, meio mágico, inebriante, capaz de trnsformar, transcender, transfigurar...
Queria escrever um poema agramatical, tão somente emocional, perfurando silêncios, derrubando etiquetas, quebrando as exterioridades.
Um poema jorrando palavras cheias de pura linguagem, entendida, decifrada pelas estrelas, contemplada pelo luar, decodificada, apenas, por aqueles que sabem amar.
Mas, um poema que, desvendando tudo, transbordasse em luzes, conquistasse exploradores perdidos, indicando-lhes caminhos, dando-lhes desejo de cantar.
E que, nesse desejo, brilhassem, como peixes felizes, no fundo do mar.
Queria escrever um poema sem tristeza alguma. Que fosse apenas louvação, por um tempo espetacular, em que o Amor fosse habitante comum, de todos os dias, em todo lugar.
Queria escrever um poema que fizesse do simples riso, o mais sincero sorriso, a saudar. Que brotasse em tempo de plantio e, na colheita abundante, fosse um nome, em cada boca, nome de sonhar, em tempo de concretizar.
Queria escrever um poema que, como o arco-íris, sugisse, tomando o céu, estampando, por entre as cores, um nome de lugar.
Lugar, antes imaginário,
Agora, real, habitado; lugar cheio de todos nós, sonhado pela nossa Paz, chamado Felicidade, sempre,
tristezas, nunca mais.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

SONHO


Um dia o poeta sonhou com a Lua.
Sonhou que ela havia invadido o seu quarto. E trazia nas mãos lindas rosas multocores.
Em cada rosa estava escrito um nome. O Poeta não entendia.
A Lua, então, estendeu-lhe uma rosa e nela estava escrito: Ilusão. O Poeta não entendeu.
E a Lua foi estendendo-lhe as rosas: Sonhos, Verdade, Canção, Dores, Tristeza, Felicidade, Alegria, Encontro, desencontros... Ficou com a última rosa, nas mãos. E o poeta perguntou-lhe: Não vais me estender também esta? A lua respondeu-lhe: Esta é a síntese de todas as rosas que te dei. Mas é preciso que chegue o Sol, para que eu possa te dar.
Esperaram horas e horas até a chegada do Sol. E a Lua estendeu a última rosa ao poeta.
Como num passe de mágica, a rosa se abriu. Suas pétalas tinham cores diversas e, numa delas, estava escrito: VIDA.
O Poeta entendeu.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Nossa Noite

Ao sairmos, daquela noite,
 bailando, pela calçada,
Conosco iam sonhos e desejos,
varando a madrugada.

Em êxtase, os nossos corações unidos,
Pulsavam, ainda, ao som do bolero.
E as nossas almas entrelaçadas,
submissas, persistiam, no compasso.

Nossos corpos presos, num grito,
Guiados pelo mesmo desejo,
Seguiam rumo ao infinito,
mergulhados naquele beijo.

Cantávamos versos de amor,
ouvindo o silêncio, a sussurrar.
E os seus olhos eram duas mãos,
macias, a me acariciar.

Unidos pela mesma paixão,
Rodamos, sonhamos, a delirar.
E, perpetuamos todos os instantes,
Como aves, em pleno voo,
Sem pressa de pousar.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Semear

Por que há de, ao se dar o semeio,
Alguma das tuas sementes, tristemente,
cair sobre solo árido, pedregoso?
Por que há de não germinar, crescer, florir a tua semente,
lançada fervorosamente, coberta de esperanças, de um novo porvir?
Por que há de  existir, ao teu redor, terra tão infecunda,
a não aceitar a semente, sobre ela a cair?
Contudo, sempre há de, por entre pedras, um verde surgir.
Precisa o semeador arar a terra, descobrir um filete sequer de solo perdido, por entre
a imensidão das rochas.
E Aquele que semeia milagres, concretizar o sonho, no árido solo da descrença, no imenso campo escondido, por entre pedras e espinhos.
Eu creio. E espero.

domingo, 8 de agosto de 2010

MEU PAI







Seus olhos eram como estrelas,
 a me guiar, a me iluminar o caminho,
mirando-me, em silêncio,
 falando-me de paz.


Ouvia-me.
Passávamos o tempo a falar de nós e sobre nós.
Sua presença era porto seguro,
encanto e refúgio para o meu ser.
Certeza de nunca estar só.

Estava sempre do meu lado
e ao meu lado.
Éramos partes iguais.


E mesmo quando nos desentendíamos,
 no fundo, estávamos a falar de amor,
Era só por amor.

Quando ele se foi,
 um bando de bem-te-vis
fez pousada em minha mangueira
 e, juntos, orquestrou-lhe uma última homenagem.


Não posso esquecer...
Não consegui juntar-me a eles.
Estava de voz embargada e asas partidas,
Não conseguia voar nem cantar.

Tive, então, que aprender a caminhar - sozinha.
Mas, de repente, pensando nele,
 tornei-me ave.
Refiz a minha plumagem e alcei voo.


Mergulhei-me, então,por entre as nuvens,
desvendei os céus,
na esperança
de, um dia, reencontrá-lo.

E,enquanto o reencontro não vem,
E eu fico, aqui, solitária, a te lembrar,
 Diz o meu coração, ao teu imenso coração:
Eu te amo,  meu querido pai!


Eu só quero dizer que te amo,
Que eu, SEMPRE, vou te amar!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Procura-se um Pintor

Procura-se um pintor
De fama sem igual,
Que tenha, na sua paleta,
Todas as cores do mundo
E muito mais.

Que recupere este quadro,
Que dê a ele mais brilho,
mais vida, mais cor.
Que o faça resplandecer, à noite
E, diante do dia, seja o guardião do sol.

Procura-se um pintor
Que seja mágico e construtor.
Que tenha inspiração divina,
Que manuseie cores infindas,
Que não se apagam com a chuva,
Não se arrefecem com o sol.

Um pintor...a pintar com amor,
Um quadro,
Que tenha brilho eterno,
Que, do tempo, seja  vencedor.

Procura-se um pintor
Que ponha, nesse quadro,
Sorrisos,
Que o enfeite, o torne bonito
E o adorne com cores do paraíso.

Que ponha, nele, o poder.
Poder de alegria e transformação,
na forma mais profunda
Da mais pura emoção.

Que pendurado,
Faça os olhos enxergá-lo por dentro,
perpetuando o momento
Em que ele foi criado,
Sentindo a beleza
E o encanto que há ali.

Procura-se um pintor
fazedor de quadros felizes.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Silêncio







O silêncio que me cerca
E me invade a alma
É um silêncio tranquilo
que valsa pelo meu ser
E canta comigo
Canções que aprendi
Só com ele cantar.

É um companheiro mudo.
Calado, que de mãos dadas
Carrega a minha alma
Por caminhos que não percorri,
Mas que ele conhece muito bem.

Epifânico silêncio em mim,
Transportando mundos,
Brotando palavras,
Criando sons.

É o silêncio da minh'alma
Tranquila e só.
Ciente, porém, do seu domínio
E do caminho que tem a seguir.

domingo, 1 de agosto de 2010

A Amizade de Pessoa

Este texto me foi enviado por um ex aluno, hoje, um grande amigo a quem muito estimo:Roberto Brandão Então, quis, pela beleza impressa, compartilhá-lo, aqui.
Este é Fernado Pessoa...ou, apenas uma das suas múltiplas faces.


Você pode ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não se esqueça de que sua vida é a maior empresa do mundo. E você pode evitar que ela vá a falência. Há muitas pessoas que precisam, admiram e torcem por você. Gostaria que você sempre se lembrasse de que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, caminhos sem acidentes, trabalhos sem fadigas, relacionamentos sem desilusões. Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas refletir sobre a tristeza. Não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições nos fracassos. Não é apenas ter júbilo nos aplausos, mas encontrar alegria no anonimato. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de cada um de nós. É ter maturidade para falar “eu errei”. É ter ousadia para dizer “me perdoe”. É ter sensibilidade para expressar “eu preciso de você”. É ter capacidade de dizer “eu te amo”. É ter humildade da receptividade. Desejo que a vida se torne um canteiro de oportunidades para você ser feliz…
E, quando você errar o caminho, recomece.
Pois assim você descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita. Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância. Usar as perdas para refinar a paciência. Usar as falhas para lapidar o prazer. Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.
Jamais desista de si mesmo.
Jamais desista das pessoas que você ama.
Jamais desista de ser feliz, pois a vida é um espetáculo imperdível, ainda que se apresentem dezenas de fatores a demonstrarem o contrário.
                                       Fernando Pessoa