sábado, 20 de novembro de 2010

Não!

Que o mundo não ameace a nossa ternura.
Que um raio cruel não a atinja, jamais!
Que não amedrontem o nosso querer,
o nosso sonho de amar.
Que deixem alçar voo esta ave que há em nós.
Que não nos acuem, no vale,
não nos impeçam de prosseguir.
Que não nos queimem a Esperança,
Que não nos obriguem a gritar.
Que não nos empurrem para essa luta.
Não queremos essa luta lutar!
Queremos, apenas, aves ser
E, sobre campos verdejantes,
plainar as nossas asas e a terra beijar.
Queremos, apenas, tocar colinas que carregamos,
no peito,
O som do vento que, em nós, silencioso,
vive a cantar
Erguer os nossos olhos, em súplica,
e o céu alcançar.
Queremos Paz!
Queremos apenas o Amor amar.
Deixai-nos, pois, águias solitárias,
Exército invisível, em sonho de Paz,
Cumprindo voos infinitos,
entre a vida e o canto,
entre o céu e o mar.

sábado, 13 de novembro de 2010

Meu canto

Ouço, em mim,
o canto aflito, escondido,
 persistindo em não se abrir,
 inspiração a querer fugir.

Difícil, num tempo sem beleza,
permeado por tantas tristezas,
encontrar razão para cantar,
para o meu canto sorrir.

E o canto da própria dor,
de tanto na garganta eclodir,
vai-me, também, abandonando,
escondendo-se, temeroso,
passo a passo, a esvair-se.

Contudo, a esse tempo tirânico,
a querer apagar-me o direito
de cantar e ser feliz,
de mostrar o que há
de melhor, em mim,
Encaro e grito: Contunuo, aqui!

E com a alma em conflito,
cercada pelo tempo triste, perdido,
Luto a reestabelecer, num grito,
o sonho de ser o que
eu sempre quis.

E, por entre preleções fingidas,
Vazio e espaços sem fim,
manifesto o meu canto, grito
àqueles que, também, cantam:
Sigam-me!

Desafio flechas velozes
do desamor a me perseguir,
Acelero o meu olhar de águia,
a voar
Pois, na velocidade das minhas asas,
não poderão me atingir.

Alcançarei, então, as montanhas,
ao emergir-me desse mar
e pousarei no lugar mais alto,
outra vez,
a cantar, cantar, cantar
o meu sonho, em mim.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sou poeta

Sou poeta, neste mundo
Canto versos, a cantar.
Sou poeta, voz do canto
que, sempre, em comando,
determina o meu caminhar.

Sou poeta, escrava desse canto,
dessa voz que me conduz,
tudo a ver, nada a contentar-se.

Não sou o canto,
não sou o chorar,
nãosou o sol, não sou o luar.
Sou poeta - ser atiçado, provocado -
instrumento do cantar.

Não me culpes, pois, se versos escrevo,
canções que não queres escutar
É que... sou poeta.
 E o canto que canto,
não sou eu que canto
É o próprio canto,
sedento, flamejante,
senhor de mim, a ordenar-me.

Assim...
É dele esse cantar.

Sou poeta, a vagar,
Ser objeto, sujeito a um canto,
impregnado de querer
que, sobre mim, abre as suas asas,
ao meu ser se incorpora,
obrigando-me a cantar,
ao seu canto me entregar.

Sou objeto desse canto,
que me exalta e me aniquila,
dono do meu ser
que me exige, me ordena,
obriga-me a não me pertencer.

Essência da minha essência,
corpo único, único ser,
desejo infundido, em mim,
em desejos de mais querer.

Sou poeta, ser vencido,
disponível, comandado
pelos versos, a navegar,
arremessado no horizonte,
submergido no sensível
desse profundo mar, sem cais.