Em meio a um mundo fragmentado, conturbado e contraditório como o que vivemos, por entre escarpas, espinhos, espadas apontadas, sustos, medos, gritos, soluços, sobrevive o poeta. E conturbado como o seu tempo, perplexo diante da vida, encontra, no fundo da alma, uma espécie de lâmpada mágica que ilumina o túnel, clareia-lhe o caminho, espantando as trevas angustiantes que seriam para si, a vida, sem a sua poesia.
Porque é essa a grande razão de escrever: fazer explodir a inquietação que lhe vai na alma, tornar público essa espécie de monólogo que como um mosquitinho, fica a instigar-lhe, querendo colocar o ser em movimento.
E ele, o poeta, entre o assombro e a surpresa, vê esvair-se sobre o papel, em meio a contas, obrigações, preocupações, o sensível do ser.
Gotas imensas de sensibilidade e imaginação vão transformando-se em riachos, rios, cachoeiras de imagens, símbolos que acabam por retratar o seu interior. E aquilo que não se diz é agora dito, por entre linhas unidas, formando metáforas, metonímias e uma série de figuras que terminam, por fim, a representar-lhe a própria alma.
Para o poeta, uma árvore, não é tão somente uma árvore.É muito mais. É tudo aquilo que, aos seus olhos atentos, representa uma árvore. E essa representação, explícita ou implícita vai, passo a passo, caracterizando o ser poeta. Alma impregnada de canções contidas que teimam em com ele cantar. Inquietação que se desemboca em melodias que, com ele, querem rimar.
E no espelho dessa alma de poeta, a poesia se faz luz. Reflete por entre a moldura, espalha raios intensos e se perpetua nas linhas escritas.
Aí, então, a alma sossega? Que nada! Insatisfação eterna. Continua querendo falar. E, deslizando por entre ondas flutuantes, entre rios e cascatas da imaginação, retorna o verbo, constitue-se a palavra... transborda.
E como diz o grande Otávio Paz, "consagra o instante".
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