Sou poeta, Se por vezes canto a dor
E lamento o canto,
Tudo a ver, nada a contentar-se,
Busca incessante,
Destino de nunca encontrar-se,
Não te iludas com todo esse cantar,
O que exponho não é meu
Épura obra desse canto, que com poder e sonhos infindos
Vem, sempre, em mim consumar-se.
.
Sou poeta, neste mundo
para sonhar, iludir-me , chorar, voar..
Respeitosamente contemplo esse meu canto,
Magia que me comanda, que vive, em mim,a entoar-se.
.
Sou poeta
Escrava desse canto, dessa voz que me conduz,
Que sempre em comando, convida-me à cumplicidade
E, assim, determina o meu caminhar.
.E silenciosa obedeço,
E, obedecendo, versos contemplo,
Versos impetuosos, inquietos versos que, entre a mão e o papel
estão sempre a derramar-se.
.
Não sou canto, não sou o chorar,
Não sou sol, não sou luar,
Sou poeta - ser atiçado, provocado,
Instrumento do cantar.
.Não me culpes , pois,se versos escrevo,
Canções que não queres ouvir.
É que sou poeta e o canto que canto,
Não sou eu que canto,
é o próprio canto, sedento, flamejante,
Senhor de mim a ordenar-me.
É dele esse cantar.
.
Sou poeta a vagar pelo mundo das palavras,
guiada pelas mãos desse canto,
Ser objeto, sujeito ao canto,
Entregue a esse canto, impregnado de querer
que sobre mim abre as suas asas, do meu ser se incorpora,
obrigando-me a cantar o seu canto, a me entregar.
.
Sou objeto desse canto que me exalta e me aniquila,
em versos repletos de querer,
Dono de mim, do meu ser, que me exige, me ordena,
Obriga-me a não me pertencer.
.Essência da sua essência, corpo único, único ser.
Desejo fundido em mim,
em desejos de bem querer.
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Sou poeta, ser vencido, disponível, comandado,
pelos versos a navegar.
Arremessada no horizonte, submergida pelas mãos do sensível,
em profundo, imenso mar,
revestida de poesia, imposta por esse canto,
que, em mim, insiste em espalhar-se