Nasci com a Natureza tatuada em minha alma. E o fato de ter demorado a chegar ( diz a minha mãe: parto difícil...), talvez seja justificado pela possibilidade de eu não querer dela me separar.
Sempre esteve, em mim, a sensação eterna da verdade suprema: Natureza e Deus. E, na face de cada folha, no perfume de cada flor, encontro, sempre, a face do meu Deus.
Minha mãe, durante muito tempo, esteve a falar da minha inquietação: o choro incontido, só tranquilizado quando ela punha uma música a tocar e me colocava diante da goiabeira. Só com o ligar do rádio a espalhar música pelo ar, unida à paisagem, diante da qual ela me posicionava, eu me tranquilizava: a goibeira do nosso quintal a estender os seus galhos contra o vento, a balançar pra lá e pra cá como em acenos ao Céu. E eu, olhos fixos, começava, lentamente, a acompanhar com o corpo com os movimentos da árvore e calava-me, atenta, olhos para o balé, ouvidos para a música. Sussurrava baixinho a imitar, a integrar-me ao show divino que, certamente, era tudo aquilo para mim.E, depois de alguns minutos, silenciosa, apenas contemplava.
Chegou o tempo da escola e lá, aprendi sobre oxigênio, gás carbônico, árvores, seres humanos. E a minha alma encantada, curvou, mais uma vez, reconhecida diante da obra de Deus.Na perfeição das Suas mãos, a troca: expiramos gás carbônico, inspiramos oxigênio - disse-me a professora - e as árvores expiram oxigênio e inspiram gás carbônico. Dependência total que deveria fazer-nos refletir melhor sobre o Projeto de Deus.
Passei e ainda passo o tempo a indagar por que os seres humanos, dotados de tanta inteligência não consegue entender aquilo que todos os seres, toda a Natureza entende e, harmoniosamente, simplesmente, pratica: a compreensão desse elo, dessa cadeia dotada de tantos braços, mas que formam um corpo único.
Por que é tão difícil para nós compreender esta Grandeza?
Na minha adolescência, conheci Gibran. Por suas obras me apaixonei. Gibran Kalil Gibran disse tudo o que a minha alma sempre quis dizer e não conseguiu: Nossas almas são como flores tenras à mercê dos ventos do destino. Elas tremulam à brisa da manhã e curvam as cabeças sob o orvalho cedente do Céu..." E eu. creio que aquelas que não se curvam, cobrem-se de espinhos, perdem o perfume, secam e se desencontram com o orvalho do Céu. .Deixam de amar.
E é este o meu destino: amar. Amar a Natureza porque não concebo amar a Deus e ignorar a obra das Suas mãos.
Como pode o homem não entender que somos obra única de Deus? Como pode não entender que somos membros de um só corpo? Como pode não entender que somos grãos de areia pequeninos, "sobre a margem infinita de uma mar infinito"?
Pobre e miseráveis somos nós por não compreendermos a imensidão do Amor, a suprema e infinita obra das mãos de Deus.
Ah, Senhor, Espírito Santo de Deus, miserocórdia!
Misericórdia; Senhor, para este tempo em que o Amor já não é amado, a solidão se perpetua e o deserto sem fim fica cada vez mais próximo de nós.
Abra as Tuas asas sobre nós e derrama os teus dons.A Sabedoria para compreender, a Humildade para aceitar, o Amor para amar.
Assim, seremos e agiremos como todos os nosssos irmãos, elementos da Natureza, suprema unidade em Força, Amor e Paz