Olho ao redor e percebo um tempo incerto, nuvens escuras no ar. Abutres circulam ao redor, livremente premonizam o futuro que vai chegar (?) E o cheiro não é de chuva, o cheiro não é de mar
Cheiro estranho que polui o ar, que polui o tempo, escurece as águas, faz os rios chorarem. E, daqui do meu canto, qual ave de asas partidas, qual peixe lançado sobre a areia quente da praia, debato-me entre a trsiteza e a dor, sem entender porque tantos tão bem se acomodam, por que tudo se contagia, sem ter a quem apelar. O mal ri, o bem chora e o pobre ignorante sorri para quem arranca-lhe a vida e, feliz, vai embora.
A cada canto brasileiro, presença de abandono em desolada máscara de desamor, a confundir miséria, indiferença com justiça, "imenso favor", ações a favor, sim, da dor, bolsos cheios, barrigas vazias se misturam, a desencantar os olhos dos que veem.
Quando ouvirei o brado retumbante, quando verei este gigante levantar-se? Quem rebelar-se-á contra o que permanece adormecido, quem está a sufocar o seu grito? Quem e por que o maltrata tanto assim?
Gigante, avante, é hora de acordar!! Tiram-lhe, a cada dia a visão que ilumina, rasgam-lhe a carta de alforria e sobre todo o sangue derramada, bailam com cínica maestria, tentam negar-lhe (e negam) um novo dia, põem os seus jovens pelos escuros becos, a cair, a degredar-se ... cegam-lhes os olhos, endurecem-lhes o coração, desvalorizam os seus valores, alimentam as suas dores, os fazem cantar e aplaudir o mau, desprezando a justiça, ignorando a sensata voz da verdade e da paz.
Minha alma, gigante, sussurra um canto triste, a premonizar sonhos em pedaços,mas, a orar por uma outra realidade... sinto, contudo choros pelo ar. Entretanto, mesmo assim, eu escrevo, mesmo assim eu canto - por entre lágrimas indgnadas eu canto -, mesmo assim eu grito, porque é preciso coragem, é preciso luta, é preciso cantos, é preciso gritos, pra o gigante acordar.